quarta-feira, 21 de setembro de 2011

CONTEXTO E REALIDADE DAS JUVENTUDES: ALGUMAS NOTAS

1. Juventude: conceito complexo e multidimensional


Compartilho da ideia de que conceituar juventude não é uma tarefa fácil e sua definição depende dos interesses de quem maneja esse conceito e de quem trabalha com esse segmento. Acreditamos que o contexto socioeconômico, social, histórico e cultural contribui e é determinante na compreensão do conceito de juventude e na relação que com ela se estabele. Compreendo a juventude como um fenômeno multidimensional, caracterizado por fatores diversos relativos: à geração, à educação, ao trabalho, à comunicação, à participação e à exclusão do consumo, dentre outros fatores.

Portanto, juventude é uma construção social e cultural, o que implica pensar os/as jovens a partir do contexto e da condição em que vivem no Brasil. Nesse sentido, podemos dizer que a juventude não é só um segmento situado na faixa etária que vai dos 15 aos 29 anos, portanto uma breve passagem, mas a vivência de um período (complexo e multidimensional) específico do ciclo da vida, caracterizado histórica e culturalmente, em que os indivíduos buscam completar sua formação física, intelectual, psíquica, social, cultural e processar a passagem da condição de dependência para a de autonomia em relação à família de origem. Trata-se da vivência de um ciclo marcado centralmente por processos de desenvolvimento, inserção social e definição de identidades, o que exige experimentação intensa em diferentes esferas da vida.

Os/as jovens são sujeitos/as com necessidades, potencialidades e demandas singulares em relação a outros segmentos etários, requerendo suporte adequado para desenvolver sua formação integral e também para processar suas buscas, construir seus projetos e ampliar sua inserção na vida social.


2. Contexto e realidade das juventudes


Dialogo nesta parte com alguns dados recentes de pesquisas e de órgãos oficiais, como o IBGE, IPEA, PNUD, PNAD e SIM.


A população juvenil se contrai


A partir dos anos 80, com a queda das taxas de natalidade e o aumento das taxas de mortalidade juvenil, constata-se que a população jovem apresenta uma tendência para a contração, segundo projeções oficiais. Existem cerca de 34,7 milhões de jovens na faixa de 15 a 24 anos, representando 18,5% da população total do país. Os dados oficiais indicam que as regiões Sul e Sudeste apresentam um progressivo decréscimo da população juvenil, com o conseqüente envelhecimento da população. Nas regiões Norte e Nordeste a população juvenil (15 a 24 anos) ainda é maior que a população adulta (25 anos acima), mas as projeções também revelam que essas regiões também serão afetadas por este fenômeno.


O analfabetismo ainda nos desafia


Um dos grandes problemas que marca a juventude brasileira é o analfabetismo, que atinge a população juvenil de mais de 15 anos. No Brasil o analfabetismo atinge 12,4% da população de mais de 15 anos de idade. Esse percentual é alto, quando comparado ao índice de analfabetismo de vinte países da América Latina e Caribe, chegando o Brasil a ocupar a 13ª. posição.

Do início dos anos 90 para cá tem havido uma significativa melhora do índice acima mencionado na faixa etária de 15 a 24 anos, mas principalmente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste. No Nordeste (7,5 milhões de analfabetos), entre os/as jovens na faixa de 15 a 29 anos, segundo o próprio MEC, o índice chega a 12%, chegando a ser cinco vezes maior, comparado com essas regiões. No total, são quase 1 milhão de analfabetos jovens. A maior parte deles está concentrada nos estados do Ceará, Pernambuco, Bahia e Maranhão. Os dados mostram que estes jovens vivem nas áreas rurais da região, pertencem a famílias também analfabetas e de baixo poder aquisitivo.


Os jovens estão fora da escola


É fato que 98% das pessoas de 7 a 14 anos estão na escola (dados de 2009), revelando a universalização da escolarização nessa faixa. Porém, quando tomamos como referência a faixa etária dos 15 a 24 anos, percebemos que a situação muda, visto que somente 30,3% estavam frequentando a escola em 2009, sem falar que, quando estão na escola, o nível de ensino desses jovens não corresponde a sua idade cronológica.


Os jovens não freqüentam a escola


Portanto, muitos jovens não estão freqüentando a escola. Essa realidade foi constatada em 21 dos 27 estados da federação. Os estudos mostram que essa situação piora quando os/as jovens pertencem a famílias cujo poder aquisitivo é baixo, entre outros problemas sociais vividos por esses segmentos.

Além disso, os estudos também mostram que há distorção entre a série e a idade do/da jovem. Constatamos que muitos jovens, na faixa dos 15 anos de idade, deveriam estar cursando o ensino médio, e isto não está ocorrendo, evidenciando a defasagem da escolarização entre os/as jovens.


Os/as jovens do Norte e Nordeste estudam menos


Outra situação preocupante é que, ao contrário dos/das jovens do Sul e do Sudeste, os/as jovens do Norte e Nordeste possuem uma média de anos de estudo baixa, chegando a 7,3 anos. No Sul e no Sudeste essa média chega a mais de 9 anos. Quando colocamos a questão da raça/cor, percebemos que ela incide sobre a média de anos de estudo. Os dados mostram que os/as jovens brancos possuem uma média de 9,3 anos de estudo e os negros de 7,3 anos. Essas diferenças são constatadas praticamente em todas as regiões do país. Constatamos também que os anos de estudo diminuem na medida em que os/as jovens pertencem a famílias de baixo poder aquisitivo.


A educação oferecida às/aos jovens é bastante deficitária


O problema da baixa qualidade talvez seja o principal problema na área educacional do país. O Brasil está situado praticamente no último lugar ou nas últimas posições, quando comparado a outros países. Os estudos que analisam as competências e o desenvolvimento da aprendizagem dos/das jovens realizados por vários órgãos brasileiros e internacionais, apontam que mais de 90% dos alunos não tiveram uma formação adequada em matemática e em língua portuguesa. Quando o desempenho é avaliado segundo as diferenças de raça/cor, os estudos mostram que o desempenho dos brancos é maior que o desempenho dos jovens negros e das negras.


A renda dos/das jovens cai nos últimos anos e menos de 50% tem alguma renda


Cerca de 46,7% dos/das jovens no Brasil têm acesso algum tipo de renda. Dos jovens na faixa de 16 a 24 anos que trabalhavam em 2010, 22% recebiam até ½ salário mímino. Essa situação tem influenciado no acesso aos serviços sociais, principalmente à educação e à saúde.

Quando essa situação é avaliada tomando-se como referência as regiões, percebemos que as diferenças geográficas são patentes, revelando a existências de dois "Brasis”: de um lado as regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste, onde a situação de renda dos/das jovens é melhor, inclusive influenciando na média de anos de estudo que ficou em torno de 11,1 anos; e do outro, as regiões Norte e Nordeste, onde são bem mais altos os índices de indigência e pobreza, influenciando negativamente na média de anos de estudo, que não passa de 6 anos (o Ensino Fundamental tem 8 anos).

Os dados também mostram que os jovens têm renda maior que as jovens. A média de renda entre os homens foi R$ 442,00 e a das mulheres, de R$ 376,00, 16% inferior.

Nesse caso também, a raça/cor influencia na condição econômica de renda. A renda dos/das jovens negros é sempre inferior à renda dos/das jovens brancos
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O desemprego massacra os/as jovens brasileiros/as


Os dados das pesquisas,como a realizada pela Organização Internacional do Trabalho em 2009, mostram que a taxa de desemprego entre os jovens é 3,2 vezes superior à taxa constatada junto aos adultos. O índice de desemprego dos jovens na faixa de 15 a 24 anos é de quase 18%.


Somente 22,2 milhões estavam ativos em 2009, ou seja, trabalhando ou procurando emprego no Brasil. Dos ocupados, quase 1/3 não tem carteira assinada.

As pesquisas mostram também que as taxas de desocupação entre os jovens são maiores na região Sudeste (20,3% ), Centro-Oeste (17%) e Nordeste (16,7%).


Os jovens estão morrendo mais: a deterioração da saúde juvenil por causas externas


O Mapa da Violência de 2011 mostra que as taxas de mortalidade juvenil praticamente não sofreram alterações ao longo do período de 1980 a 2008, chegando a 133 por cada 100 mil jovens, em 2008.

Essa realidade evidencia que a saúde do jovem brasileiro está se deteriorando, não por motivo natural, mas porque a juventude é vítima de acidentes, homicídios e suicídios. As mortes dos segmentos juvenis estão associadas à violência (conflitos armados), aos suicídios e aos acidentes de trânsito. Essas causas respondem por 72,8% da mortalidade juvenil de 15 a 24 anos no país.

Os estudos mostram, portanto, que em décadas passadas, a mortalidade juvenil estava ligada à causas naturais, fruto de epidemias e doenças infecciosas. Atualmente, os jovens morrem mais devido à violência, aos acidentes de trânsito e ao suicídio. As causas naturais (doenças) são responsáveis por 27,2% das mortes dos jovens.

Os estados que se destacam no número de homicídos na população de 18 a 24 anos, considerando o ano 2008, segundo o Mapa da Violência/2011, são os seguintes: Pará (região Norte), com 1.086 homicídios; Bahia (região Nordeste), com 2.004 homicídios; Rio de Janeiro (Sudeste), com 1.933 homicídios; Paraná (Sul), com 1.388 homicídios; e Goiás (Centro-Oeste), com 613 homicídios.


A Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, estimou, através de estudos realizados em 2009, que o Brasil perderia por ano 4.876 adolescentes, chegando a um total, em 2012, de 33.500 brasileiros.


Os/as jovens também morrem por causas internas


A taxa dos/das jovens que morrem por causas internas é de 33,3 jovens em 100 mil. Esta taxa está associada à má qualidade de vida (condições de moradia, saneamento, esgoto), precariedade dos mecanismos de assistência à saúde, desigualdade no acesso aos serviços, fragilidade ou ausência de trabalhos preventivos e educativos relacionados à saúde etc., destacando-se as regiões mais pobres do país – Norte e Nordestes – como as que sofrem a falta dessas condições ou com a oferta e cobertura ineficiente dos serviços de saúde.


Ainda é muito baixo o acesso dos/das jovens à Internet em casa


Segundo o IBOPE (2009), 38, 2 milhões de brasileiros tinham acesso à Internet em casa, o que representa pouco mais de 20% da população brasileira.

O PNAD/2010 mostrou que o computador chega a 35% dos domicílios brasileiros e 27% dos lares têm Internet.

A OCDE, em 2009, mostrou que, nos segmentos dos estudantes das faixas ricas do Brasil o percentual de acesso á Internet chega à casa dos 86%. Já na camada dos estudantes mais pobres do país esse percentual chega a 15%, um traço da exclusão do acesso às tecnologias de comunicação e informação.


Considerações Finais


Como observamos, o enfoque deste artigo foi predominantemente estatístico. Como se trata apenas de algumas notas, quisemos tão somente caracterizar a realidade dos jovens para chamar a atenção para a sua condição no Brasil e para a necessidade e urgência do enfrentamento desses problemas.

Essa realidade, de modo particular, apresenta muitos desafios para os governos e as organizações que trabalham com as juventudes.

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