domingo, 10 de maio de 2015

A DIFERENÇA ENTRE PRÁXIS E ATIVIDADE

No trabalho social e educativo é comum as pessoas se referirem as suas atividades chamando-as de práxis. Qual a diferença entre práxis e atividade?

Este artigo, de forma muito pontual, pretende discutir a diferença entre práxis e atividade, tomando como referência o pensamento do filósofo Sánchez Vázquez.

Vázquez, em sua obra Filosofia da Práxis (2007), apresenta conceitualmente a diferença entre atividade e práxis, afirmando que “toda práxis é atividade, mas nem toda atividade é práxis”. Explica logo que a atividade (em geral) é um conjunto de atos em virtude dos quais um sujeito ativo (agente) modifica uma matéria-prima dada. Portanto, a atividade, por sua generalidade, não especifica: o tipo de agente (físico, biológico ou humano); a natureza da matéria-prima sobre a qual atua (corpo, ser vivo, vivência psíquica, relação ou instituição social); a espécie de atos (físicos, psíquicos, sociais) que levam a certa transformação; seu resultado (o produto) se dá em diversos níveis (nova partícula, um conceito, um instrumento, uma obra artística ou um novo sistema social). Para o autor, só podemos falar em atividade se esta se referir a atos singulares que se articulam e estruturam, como elementos de um todo, ou de um processo total, que desemboca na modificação de matéria-prima. E também se esta se traduzir em um produto: o resultado dessa matéria transformada pelo agente. Vázquez, ainda caracterizando a atividade, refere-se a esta dizendo que ela é humana apenas quando se verifica que os atos dirigidos a um objeto para transformá-lo se iniciam com um resultado ideal, ou fim, e terminam com um resultado ou produto efetivo, real.

Segundo o autor, isso ocorre devido a intervenção da consciência, graças a qual, o resultado que o sujeito deseja existe duas vezes e em tempos distintos: como resultado ideal e como resultado real. Segundo essa compreensão, primeiro a pessoa idealiza o resultado como produto da consciência. O sujeito, portanto, age conforme o ideal formado e pensado em sua consciência, sua busca pelo real toma como ponto de partida o ideal formado em sua consciência. Vázquez, com base nessa compreensão, afirma categoricamente: “Desse modo, para que se possa falar de atividade humana é preciso que se formule nela um resultado ideal, ou fim a cumprir, como ponto de partida, e uma intenção de adequação, independentemente de como se plasme, definitivamente, o modelo ideal originário”. Segundo o autor, é esse fato que dá um caráter consciente a atividade humana. Confirma essa afirmação assegurando que “toda ação verdadEeiramente humana exige certa consciência de um fim, o qual se sujeita ao curso da própria história”.

O autor esclarece ainda que essa atividade de produção de um fim (ideal) como motor da sua ação não é produto apenas da consciência, é produto também do conhecimento, que se expressa na forma de conceitos, hipóteses, teorias ou leis mediante as quais o homem conhece e atua na realidade. É assim que ele fala em atividade cognoscitiva – através da qual o homem procura conhecer a realidade; e em atividade teleológica – onde o homem projeta em sua mente ou consciência uma realidade futura. Vázquez diz que ambas as atividades são obra da consciência e formam uma unidade indissolúvel. Ambas têm um caráter teórico, mas a teoria, por si só, não leva a uma transformação da realidade, pois a consciência não ultrapassaria seu próprio âmbito. Nesse caso, o autor conclui, tanto a atividade cognoscitiva como a atividade teleológica, apesar de serem atividades, “não são, de modo algum, atividade objetiva, real, isto é, “práxis” .

Concluímos então afirmando que, resgatar o sentido da práxis no fazer social, político e pedagógico, é remetermo-nos ao movimento de nos reconhecer implicados pelo que falamos e fazemos, bem como pelos resultados desse nosso fazer. A atividade que não incorpora essa perspectiva não é práxis, é apenas uma atividade. Como vimos, é nisto que reside a intencionalidade da práxis.

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