Este artigo, de forma muito pontual, pretende
discutir a diferença entre práxis e atividade, tomando como referência o
pensamento do filósofo Sánchez Vázquez.
Vázquez, em sua obra Filosofia da Práxis (2007),
apresenta conceitualmente a diferença entre atividade e práxis, afirmando que
“toda práxis é atividade, mas nem toda atividade é práxis”. Explica logo que a
atividade (em geral) é um conjunto de atos em virtude dos quais um sujeito
ativo (agente) modifica uma matéria-prima dada. Portanto, a atividade, por sua
generalidade, não especifica: o tipo de agente (físico, biológico ou humano); a
natureza da matéria-prima sobre a qual atua (corpo, ser vivo, vivência
psíquica, relação ou instituição social); a espécie de atos (físicos,
psíquicos, sociais) que levam a certa transformação; seu resultado (o produto)
se dá em diversos níveis (nova partícula, um conceito, um instrumento, uma obra
artística ou um novo sistema social). Para o autor, só podemos falar em
atividade se esta se referir a atos singulares que se articulam e estruturam,
como elementos de um todo, ou de um processo total, que desemboca na
modificação de matéria-prima. E também se esta se traduzir em um produto: o
resultado dessa matéria transformada pelo agente. Vázquez, ainda caracterizando
a atividade, refere-se a esta dizendo que ela é humana apenas quando se verifica
que os atos dirigidos a um objeto para transformá-lo se iniciam com um
resultado ideal, ou fim, e terminam com um resultado ou produto efetivo, real.
Segundo o autor, isso ocorre devido a intervenção da
consciência, graças a qual, o resultado que o sujeito deseja existe duas vezes
e em tempos distintos: como resultado ideal e como resultado real. Segundo essa
compreensão, primeiro a pessoa idealiza o resultado como produto da
consciência. O sujeito, portanto, age conforme o ideal formado e pensado em sua
consciência, sua busca pelo real toma como ponto de partida o ideal formado em
sua consciência. Vázquez, com base nessa compreensão, afirma categoricamente:
“Desse modo, para que se possa falar de atividade humana é preciso que se
formule nela um resultado ideal, ou fim a cumprir, como ponto de partida, e uma
intenção de adequação, independentemente de como se plasme, definitivamente, o
modelo ideal originário”. Segundo o autor, é esse fato que dá um caráter
consciente a atividade humana. Confirma essa afirmação assegurando que “toda
ação verdadEeiramente humana exige certa consciência de um fim, o qual se
sujeita ao curso da própria história”.
O autor esclarece ainda que essa atividade de
produção de um fim (ideal) como motor da sua ação não é produto apenas da
consciência, é produto também do conhecimento, que se expressa na forma de
conceitos, hipóteses, teorias ou leis mediante as quais o homem conhece e atua
na realidade. É assim que ele fala em atividade cognoscitiva – através da qual
o homem procura conhecer a realidade; e em atividade teleológica – onde o homem
projeta em sua mente ou consciência uma realidade futura. Vázquez diz que ambas
as atividades são obra da consciência e formam uma unidade indissolúvel. Ambas
têm um caráter teórico, mas a teoria, por si só, não leva a uma transformação
da realidade, pois a consciência não ultrapassaria seu próprio âmbito. Nesse
caso, o autor conclui, tanto a atividade cognoscitiva como a atividade
teleológica, apesar de serem atividades, “não são, de modo algum, atividade
objetiva, real, isto é, “práxis” .
Concluímos então afirmando que, resgatar o sentido da práxis
no fazer social, político e pedagógico, é remetermo-nos ao movimento de nos
reconhecer implicados pelo que falamos e fazemos, bem como pelos resultados
desse nosso fazer. A atividade que não incorpora essa perspectiva não é práxis,
é apenas uma atividade. Como vimos, é nisto que reside a intencionalidade da
práxis.