Sabemos que a
realidade, seja ela humana e social, é complexa e plural, difícil
de ser controlada e presa as nossas pretensões e desejos. Ela é
sempre movimento, não retilíneo, processo cambiante e
multidimensional.
Apesar destas
características, podemos pensar e desenvolver algumas estratégias a
fim de estabelecer uma certa direção para a nossa vida. Essa
direção tem a ver com o que queremos para a nossa vida. Portanto,
tem a ver com os nossos objetivos e metas.
Neste artigo,
ofereço algumas dessas estratégias visando contribuir com aqueles e
aquelas que desejam organizar sua vida para o ano de 2018.
Na base das
sugestões que aqui ofereço está a compreensão de que, quando
sabemos para onde queremos ir, nossa vida encontra mais sentido e nós
seguimos nosso caminho com foco, mais motivação e objetividade.
Além disso, aprendemos a lidar melhor com as dificuldades, vazios,
inconstâncias e falta de projeto em nossa vida.
Apresentarei as
sugestões de modo bem didático, facilitando a entendimento e sua
aplicação. Lembro, porém, que elas só funcionam se você, leitor
e leitora, levá-las à serio, ou seja, assumi-las como algo
fundamental para na sua vida. Assim, aos poucos, você vai percebendo
as transformações em sua vida, ao mesmo tempo em que estabelece um
melhor controle sobre seus sonhos e projetos, bem como sobre as ações
que realiza na direção de sua realização. Aproveite bem as
sugestões!
- Tenha clareza de seus desejos, intenções ou metas para 2018
Se você não sabe
o que quer ou deseja alcançar em 2018, torna-se difícil atingir
algo. Só se atinge algo, se sabemos o que queremos alcançar.
Procure fazer uma
lista do que você considera importante em sua vida em 2018,
considerando as várias áreas da vida: trabalho, família, amigos,
estudo, lazer, dentre outras áreas.
Depois da lista,
escolha suas prioridades. Use alguns critérios para definir o que é
prioritário. Proponho os seguintes critérios: a) escolha aquilo que
é urgente, importante e necessário para a sua vida em 2018; b)
essas prioridades têm que estar conectadas com seus sentimentos, ou
seja, com seus sonhos, emoções e desejos mais profundos; c)
estabeleça poucas prioridades para o ano novo, o que facilita o
alcance das mesmas. Usando esses critérios, as prioridades terão
mais sentido e peso dentro de sua vida, pois estão ligadas as suas
emoções, prazeres e sentimentos. Chame essas prioridades de metas.
- Associe a cada meta estabelecida uma imagem
Nossa mente
trabalha com representações, uma vez que, segundo a Programação
Neurolinguística (PnL), a percepção que fazemos de nós e da
realidade que nos envolve, é resultado de construções ligadas à
imagens, sons, sensações que fazemos em nossa mente, em nosso corpo
e na linguagem.
Então associe a
cada meta uma imagem mental positiva, algo vivo, palpitante,
pulsante. Sempre que olhar ou pensar na meta, sua mente acessará a
imagem mental e pulsante criada. Isso lhe remeterá a sensações,
sentimentos, motivações e produzirá um efeito extremamente
impactante no que se refere aos seus desejos e ações. Olhe e pense
todos os dias nessas metas – seus desejos prioritários para 2018 e
sinta-as alcançadas.
- Estabeleça suas potencialidades
Todos nós,
consciente ou inconscientemente, temos algumas potencialidades, ou
seja, conhecimentos, habilidades e competências que aprendemos ou
acessamos através de nossas experiências de vida.
Liste, ao lado de
cada meta (prioridade), suas potencialidades, as quais podem lhe
ajudar a alcançar a referida meta.
Estabelecendo suas
potencialidades, você vai perceber que possui uma série de
condições que favorecem o alcance das metas que definiu para o
período escolhido.
- Definir o que fazer e quando
É hora de pensar
e definir as ações concretas que precisam ser feitas para você
alcançar suas metas. Liste, pois, ao lado de cada meta, as ações
concretas que você precisa realizar para caminhar na direção do
alcance de suas metas. Defina a quantidade de ações que você acha
que serão suficientes para alcançar seus objetivos.
Construa uma
tabelinha, onde na primeira coluna você coloca a meta; na segunda,
suas potencialidades; na terceira, as ações concretas; na quarta
coluna, defina um prazo (pode ser o mês de referência) dentro do
qual aquelas ações deverão ser realizadas, considerando o ano de
2018.
- Acompanhe a realização de suas ações
Com a definição
das dicas 1, 2, 3 e 4, você pode dizer que sua vida, em 2018, tem
uma direção, um foco e sabe onde quer chegar.
A questão é:
como saber se suas ações estão sendo realizadas?
A resposta é
óbvia: pelo acompanhamento da realização das ações propostas por
você.
Sugiro então que
você coloque este pequeno planejamento em um local (parede de seu
quarto, porta de seu guarda-roupa, porta do banheiro, na tela de seu
computador, etc.) de fácil acesso ou visualização. Você deve
estabelecer um prazo (mensal, bimestral, etc.) que tomará como
referência para avaliar/analisar como anda a realização das ações
em direção as suas metas.
Anote o que foi
realizado e que contribuiu na realização da ação; o que não foi
realizado e quais as causas da não realização das ações. Faça
então os ajustes em seu plano de modo a não perder o foco de suas
metas e desejos.
Entenda que a
realidade em que vivemos é muito dinâmica e plural. Ela pode mudar
o curso de nossa direção e nos deixar meio perdidos no meio do
caminho.
O único modo de
não se perder é focar no que você quer alcançar. Não perca,
portanto, as representações (imagens, sons, sensações, etc.)
criadas em torno de cada uma de suas metas. Há uma força ou energia
muito especial em sua mente e vida quando você cria essas
representações. Elas, em geral, canalizam suas ações para o que
você deseja. Atente para a última dica.
- Mentalize e visualize suas metas
Pode parecer
repetitivo o que vou dizer agora, mas é necessário.
Esta última dica
é fundamental. Todos os dias, use sua mente para desenvolver uma
técnica fantástica da PnL: a visualização.
Tome as
representações que criou em torno de suas metas e as visualize
todos os dias, como se visse e sentisse já realizados, na tela de
seu interior, os desejos (em forma de meta) criados. Desse modo, você
cria e articula duas dimensões importantes em qualquer projeto: o
“acreditar” e o “agir”. Como se pode verificar, não basta
agir, é necessário acreditar que você vai conseguir. Há, pois, um
agir que está no âmbito da mente, da subjetividade, da energia
emocional (motivadora) que precisa ser mobilizada para conquistar
nossos desejos.
Concluindo...
Gostaria de pedir
encarecidamente a todos aqueles e aquelas que seguirem as dicas aqui
sugeridas que compartilhem suas experiências com esta modesta
contribuição. Enviem-me ao longo do ano seus depoimentos, seja
relacionados as suas descobertas e sentimentos, seja de suas
conquistas.
Coloco-me à
disposição para dialogar sobre esses processos que muito me
interessam, visto que também estarei aplicando as dicas e sugestões
propostas.
Acredito que essa partilha pode favorecer um proveitoso diálogo sobre o modo como construímos e realizamos nossos sonhos e desejos.
Boa sorte!
Acredito que essa partilha pode favorecer um proveitoso diálogo sobre o modo como construímos e realizamos nossos sonhos e desejos.
Boa sorte!
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POBREZA DE EXPERIÊNCIA: O MAL-ESTAR DE NOSSOS TEMPOS?
Queridos leitores e queridas leitoras desse Blog, nesse post de hoje quero compartilhar com vocês um tipo de pobreza que está se alastrando em nossos tempos, mesmo que estejamos vivendo em tempos caracterizados pela ânfase ao que é imediato, ao presente, ao agora, ao latejante ou pulsante; em tempos do primado do individualismo: “a liberdade de cada um imprimir sua exterioridade com selo de sua individualidade para nela poder reconhecer-se e fazer-se reconhecer” (Gabriel Monod).
Falo da pobreza de experiência. Essa questão tem povoado minha vida, minha mente e muitas discussões com jovens, grupos e organizações sociais.
Parece que cada vez menos, conseguimos perceber o sentido do que estamos fazendo no cotidiano de nossas vidas. Há uma sensação de mal-estar geral, como se nos sentíssemos distantes da realização de nossos sonhos e possibilidades. Pensamos e fazemos com certa mecanicidade ou instantaneidade nossas tarefas, atividades, projetos e afazeres. Quase sempre não sentimos adequadamente as coisas, as práticas e os processos que implementamos ou vivenciamos, pois eles parecem passar por nós, porque temos pressa em imprimir nossa marca de reconhecimento sem conseguirmos saber de fato se nos reconhecemos no que fazemos. Esse mal-estar se inscreve em nosso corpo, na ação e nos sentimentos, como bem nos ensina o filósofo Joel Birman. No corpo, porque sempre estamos achando que sua performance não está bem, que somos devedores em relação a ele; na ação, porque vivemos o tempo da hiperatividade, que a cada dia impõe-se a nós, fazendo-nos exigências múltiplas, num caminho de repetição de tarefas/atividades cujos objetivos quase sempre não são alcançados; no sentimento, porque vivemos um vazio no sentir devido ao excesso de exigências ao corpo, que não atinge a performance que desejamos, às ações que, apesar de serem múltiplas e repetitivas, parecem nunca atingir os seus alvos. Toda essa angústia expressa-se então em nossas emoções, sentimentos, os quais vão repercurtir no corpo e impactar nossas ações, num movimento articulado de mal-estar.
Sem querer apresentar respostas para tão complexas questões nem receitas para as mesmas, creio que uma possibilidade de enfrentamento está na superação da pobreza de experiência.
Temos o desafio (e o poder) de reinventar o modo como sentimos e vivemos nossas experiências. E esse desafio implica:
1 – Entendermos que experiência é tudo aquilo que nos toca, o que nos passa, o que nos acontece, como nos ensina Jorge Larossa, e não aquilo que passar, que acontece;
2 - Reaprendermos a lidar de forma empoderada e determinante com os excessos de informação (vivemos na sociedade da informação), opinião, trabalho e com a falta de tempo. Esses excessos impedem que façamos e vivamos experiências, o que quer dizer: sentir e viver de forma mais plena o que nos acontece, nos deixar invadir pelo que nos afeta, ou seja, sentir o viver - que é ser e fazer; e viver o sentir – a expressão em nosso corpo das emoções benfazejas, do prazer, da alegria, o que nos faz mais humanos, realizados e felizes na vida.
3 – Assumir que só fazemos experiência – sentir o viver, o que nos acontece, o que nos toca, nos afeta, e viver o sentir - se “pararmos para pensar, para olhar, para escutar mais devagar, olhar mais devagar e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço” (Jorge Larossa).
4 – Pensarmo-nos como “territórios de passagem” da experiência”, como “estradas” da experiência, como criaturas abertas ao sentir e ao viver, nos tornarmos texto e contexto do que nos acontece, nos afeta e nos apaixona.
Tentando finalizar...
Podemos dizer, a título de não encerrar essa reflexão, que é a experiência que nos liga ao mundo, ao ser e ao viver. E que, sem nos tornarmos “territórios de passagem” dela, continuaremos mergulhados no mal-estar, que tanto nos adoece e produz morte na sociedade de hoje.
Quem tem medo da experiência?
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PALAVRA E CORPO
Nesses últimos dias, sob um movimento de devaneio do espírito, inquieto senti-me pensando em dois grandes poderes: o poder da palavra e do corpo, elementos fundantes e mediadores da comunicação. E me perguntei: qual desses poderes tenho acessado mais em meu cotidiano? A resposta foi óbvia: o poder da palavra, do verbo. Logo, conclui: falo mais com o verbo do que com o corpo.
Na inquietude dessa reflexão, buscando entender melhor a razão pela qual nos comunicamos pouco com nosso próprio corpo, me fez pensar o quanto somos exageradamente racionais e não exploramos, mobilizamos as nossas inteligências que caracterizam e configuram esses poderes. É, a gente tem muitas inteligências. Foi isso que descobriu o psicólogo Howard Gardner, que afirma que nós temos dez inteligências: linguística, que se manifesta na habilidade para lidar com as palavras nos diferentes níveis de linguagem; a lógico-matemática, a que determina a habilidade para o raciocínio dedutivo; a musical, que nos permite organizar sons de maneira criativa; a intrapessoal, que é a capacidade que tem uma pessoa para conhecer-se e estar bem consigo mesma, gerenciando bem seus sentimentos e emoções; a interpessoal, capacidade de se dar bem com outras pessoas e grupos; a espacial, capacidade de formar um modelo mental adequado das situações espaciais em que se encontra e orientar-se em direção aos seus projetos pessoais e coletivos; a corporal-cinestésica, é a inteligência que se revela como uma especial habilidade para utilizar e se comunicar com o próprio corpo de diversas maneiras; a naturalista, a sensibilidade para distinguir os seres vivos e outros elementos da natureza; a pictórica, capacidade de reproduzir pelo desenho, objetos e situações reais ou mentais; a existencial, capacidade e competência para ponderar sobre a vida e a morte e outras realidades.
Quando me dei conta desse número grande de inteligências, percebi que nós só mobilizamos uma mais cotidianamente: a linguística. Na verdade, nós nem cogitamos a possibilidade de que nossa existência, nossa materialidade ou presença no mundo se explicita ou emerge através de nosso corpo; que deveríamos conceber e mobilizar essas inteligências integradamente, explorando-as, tornando-as nossas parceiras na construção de nós mesmos e de nós mesmas, e da (nova) sociabilidade. Mas, por que será que não nos comunicamos com o corpo (inteligência corporal-cinestésica)? Por que nos distanciamos tanto de nosso corpo, apesar de uma ênfase muito grande, neste tempo de culto ao corpo, a esse elemento via a estética, a beleza? Mas, será que um corpo bem torneado, bem demarcado do ponto de vista físico, reflete ou demonstra que mobilizamos e nos comunicamos potencialmente com ele e através dele, enfim, que construimos e afirmamos nossa existencialidade no cotidiano de nossas vidas?
Sem querer oferecer uma resposta definitiva para as questões, podemos arriscar dizer que esse fato tem a ver com uma das heranças de nossa história e da história de nosso corpo: no Ocidente, aprendemos a cultivar mais a palavra do que corpo, corpo entendido aqui como uma multiplicidade de dimensões e possibilidades, como lugar e mediação comunicativa, como lugar e estrada de experiências e tessituras da vida.
Na verdade, teríamos que resgatar e atualizar em nós a nossa ancestralidade, o que quer dizer que precisamos nos redescobrir redescobrindo nosso corpo em suas origens: a nossa herança africana, a nossa afrodescendência. É neste berço que podemos (re) encontrar o sentido de nosso corpo. É como diz o francês Jacques Gauthier, filósofo, poeta e pedagogo: “o corpo de cada de um nós é uma forma de vida, que por ter uma história (...) e raízes ancestrais ainda atuantes, vivas, irradiantes, sabe muitas coisas – algumas claras, outras escuras e outras claras-escuras. Assim, podemos afirmar que o corpo pensa”.
Na perspectiva da cosmovisão africana, não há separação entre o corpo e a palavra, esses elementos estão integrados; o corpo é fonte e meio de produção da vida, de saberes e experiências, é produtor de cultura.
René Barbier, outro estudioso francês, nos ensina que uma pessoa só existe pela existência de um corpo, de uma imaginação, de uma razão, de uma afetividade em permanente interação. Assim, podemos tudo com o nosso corpo: ousar e sentir cheiros, toques, olhares, sons, tons...
Só de uns tempos para cá é que entendi a importância do movimento, da ginga, da relação do corpo com a natureza. E entendi isso através das leituras e vivências com os quilombolas, alguns professores e professoras, outros e outras líderes, educadores, educadoras, artístas e militantes da causa racial no Brasil. Me lembrei muito do que nos ensina Eduardo Oliveira em sua obra “Filosofia da Ancestralidade” (2007): ele nos ensina que o corpo inaugura outro maneira de ser, um outro modo de aprender e viver a vida. O corpo, na cultura de matriz afrodescendente, é compreendido a partir de três princípios: diversidade, integração e ancestralidade. O corpo, portanto, segundo esse autor, é uma síntese de uma filosofia, de uma cultura, signo de uma arte.
Parece certo dizer que fomos saqueados, desde a nossa constituição como nação, de nosso corpo. Entendo agora porque os coronéias maltratavam, batiam, acorrentavam e matavam os negros e negras - vidas-corpos africanos. Queriam destruir, na verdade, um outro modo de ser, de pensar e viver neste mundo, queriam destruir uma sabedoria milenar. Foi essa elite, aliada a outros setores e em diferentes momentos históricos, que impôs uma única maneira de ser, pensar e viver: através da racionalidade, portanto, através da palavra.
Nossas relações na atualidade, você deve concordar leitor e leitora, são pautadas, em grande medida, pela palavra. Não nos comunicamos ou nos comunicamos pouco com o corpo. Desaprendemos que o corpo é um universo e uma singularidade. Não quero dizer com isso que a palavra não seja fundamental em nossas relações e projetos, na construção de nós mesmos, de nós mesmas e da sociedade.
Será que é possível uma reinvenção de nós mesmos e de nós mesmas a partir de nosso corpo? Como podemos mobilizar mais esse poder universal e ancestral que é o nosso corpo?
Veja este outro artigo: Olhos Negros: uma visão sobre a África desconhecida .
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