domingo, 18 de setembro de 2011

POBREZA DE EXPERIÊNCIA: O MAL-ESTAR DE NOSSOS TEMPOS?

Queridos leitores e queridas leitoras desse Blog, nesse post de hoje quero compartilhar com vocês um tipo de pobreza que está se alastrando em nossos tempos, mesmo que estejamos vivendo em tempos caracterizados pela ânfase ao que é imediato, ao presente, ao agora, ao latejante ou pulsante; em tempos do primado do individualismo: “a liberdade de cada um imprimir sua exterioridade com selo de sua individualidade para nela poder reconhecer-se e fazer-se reconhecer” (Gabriel Monod).

Falo da pobreza de experiência. Essa questão tem povoado minha vida, minha mente e muitas discussões com jovens, grupos e organizações sociais.

Parece que cada vez menos, conseguimos perceber o sentido do que estamos fazendo no cotidiano de nossas vidas. Há uma sensação de mal-estar geral, como se nos sentíssemos distantes da realização de nossos sonhos e possibilidades. Pensamos e fazemos com certa mecanicidade ou instantaneidade nossas tarefas, atividades, projetos e afazeres. Quase sempre não sentimos adequadamente as coisas, as práticas e os processos que implementamos ou vivenciamos, pois eles parecem passar por nós, porque temos pressa em imprimir nossa marca de reconhecimento sem conseguirmos saber de fato se nos reconhecemos no que fazemos. Esse mal-estar se inscreve em nosso corpo, na ação e nos sentimentos, como bem nos ensina o filósofo Joel Birman. No corpo, porque sempre estamos achando que sua performance não está bem, que somos devedores em relação a ele; na ação, porque vivemos o tempo da hiperatividade, que a cada dia impõe-se a nós, fazendo-nos exigências múltiplas, num caminho de repetição de tarefas/atividades cujos objetivos quase sempre não são alcançados; no sentimento, porque vivemos um vazio no sentir devido ao excesso de exigências ao corpo, que não atinge a performance que desejamos, às ações que, apesar de serem múltiplas e repetitivas, parecem nunca atingir os seus alvos. Toda essa angústia expressa-se então em nossas emoções, sentimentos, os quais vão repercurtir no corpo e impactar nossas ações, num movimento articulado de mal-estar.

Sem querer apresentar respostas para tão complexas questões nem receitas para as mesmas, creio que uma possibilidade de enfrentamento está na superação da pobreza de experiência.

Temos o desafio (e o poder) de reinventar o modo como sentimos e vivemos nossas experiências. E esse desafio implica:

1 – Entendermos que experiência é tudo aquilo que nos toca, o que nos passa, o que nos acontece, como nos ensina Jorge Larossa, e não aquilo que passar, que acontece;

2 - Reaprendermos a lidar de forma empoderada e determinante com os excessos de informação (vivemos na sociedade da informação), opinião, trabalho e com a falta de tempo. Esses excessos impedem que façamos e vivamos experiências, o que quer dizer: sentir e viver de forma mais plena o que nos acontece, nos deixar invadir pelo que nos afeta, ou seja, sentir o viver - que é ser e fazer; e viver o sentir – a expressão em nosso corpo das emoções benfazejas, do prazer, da alegria, o que nos faz mais humanos, realizados e felizes na vida.

3 – Assumir que só fazemos experiência – sentir o viver, o que nos acontece, o que nos toca, nos afeta, e viver o sentir - se “pararmos para pensar, para olhar, para escutar mais devagar, olhar mais devagar e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço” (Jorge Larossa).

4 – Pensarmo-nos como “territórios de passagem” da experiência”, como “estradas” da experiência, como criaturas abertas ao sentir e ao viver, nos tornarmos texto e contexto do que nos acontece, nos afeta e nos apaixona.

Tentando finalizar...


Podemos dizer, a título de não encerrar essa reflexão, que é a experiência que nos liga ao mundo, ao ser e ao viver. E que, sem nos tornarmos “territórios de passagem” dela, continuaremos mergulhados no mal-estar, que tanto nos adoece e produz morte na sociedade de hoje.

Quem tem medo da experiência?

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