sábado, 17 de setembro de 2011

COMO ANALISAR A CONJUNTURA

Este artigo é direcionado especialmente para as pessoas que têm algum tipo de atuação no social e deseja apropriar-se de um método simples de análise da conjuntura sociopolítica e econômica – conjunto de fatos, situações, acontecimentos, liderado ou conduzido hegemonicamente por uma pessoa, grupo, instituição, governo, etc., chamado aqui de ator, porque desempenha um determinado papel, seja ele social, político, econômico, religioso, cultural.

Eu usei esse método várias vezes no trabalho com grupos, instituições, movimentos. Você pode usá-lo em suas atividades sociais ou comunitárias, sempre que precisar discutir a realidade social e política da comunidade, município, estado ou do país. Eu aprendi esse método com Herbert de Souza – o Betinho, já falecido, grande sociólogo e animador do Movimento “Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida”.

Sei que vivemos num tempo em que pouca gente e poucas organizações da sociedade civil analisam a conjuntura. Parece que há um certo desinteresse para a análise de conjuntura. Geralmente, faz análise de conjuntura quem, de alguma forma, faz incidência sóciopolítica, ou seja, desenvolve uma atuação no campo social, político e comunitário, ação essa que precisa considerar as diferentes variáveis que podem interferir positiva ou negativamente nos objetivos de seu trabalho. Não só para isso, faz-se análise de conjuntura para detectar O jogo de forças na sociedade, identificar a relação entre essas forças e as possibilidade de fazer ecoar os projetos, intenções que se deseja, inclusive identificar possibilidades para um determinado projeto.

A gente não sabe, mas as forças que dominam nossa sociedade utilizam mecanismos poderosos de análise da conjuntura para obter campo aberto para suas intervenções, manipulando pessoas,notícias, grupos e instituições e assim atingir seus objetivos. E hoje, para quem não sabe, esses mecanismos são cada vez mais sutis. O filósofo italiano Felix Guattari fala em “modelação dos indivíduos”, defendendo que os setores dominantes da sociedade procuram introjetar valores, hábitos, crenças e desejos serializados. As pessoas são trabalhadas de forma individuada, constituindo-se em meros “produtos de fábrica”, seduzidos pelas imagens da mídia, desejantes das mesmas conquistas de seus pares; e de forma singular, em que o sistema favorece aos indivíduos a criação de modos próprios de relacionar-se com a vida e consigo mesmo, sem deixá-los, porém, fugir dos modelos identitários.

Pois é, para um projeto social, político, cultural, etc., tornar-se importante na sociedade, para uma comunidade, cidade, estado ou país, é necessário construir permanentemente uma visão crítica da realidade, avaliando sempre as variáveis em jogo, para também identificar as possibilidades desses projetos ganharem adesão social junto ao público, junto à comunidade ou junto à sociedade.

Nesse sentido, é importante não ser ingênuo, a sociedade é movida por interesses e para garanti-los os grupos e instituições utilizam mecanismos de controle e manipulação para convencer as pessoas das verdades que esses grupos e instituições desejam que acreditem e defendam.

Portanto, uma análise de conjuntura tem que atender a pelo menos três exigências:

1) ser um olhar, uma leitura de raiz, ou seja, ir a fundo nas questões, atentando-se para o que está por trás dos fatos e acontecimentos; 2) de conjunto, isto é, buscar entender as coisas em sua totalidade, articulando o micro com o macro, o geral e o específico, o essencial e acessório, etc.; 3) rigorosa, no sentido de que não pode ser uma leitura ingênua, superficial, sem imprimir a esse processo a reflexão crítica, a busca pelo que está muitas vezes invisível aos olhos, pois há aspectos da realidade que estão no campo do intangível, do não palpável. O analista da conjuntura tem que ser também um artista do invisível.

Vamos então ao que interessa: como se faz uma análise de conjuntura?

Passo 1: Levantar os elementos da conjuntura segundo as categorias abaixo

Numa leitura da conjuntura, devemos utilizar alguma categorias, sendo as mais importantes as seguintes:

a) Acontecimentos: fatos relevantes, com repercussão na comunidade, na população de um município, estado ou país. Fato é um coisa corriqueira, banal, “normal”. O acontecimento, ao contrário, mexe com a dinâmica local, estadual, nacional e mundial; são situações impactantes, chamam-nos atenção pelo modo como impactam a sociedade, produzindo mobilização, retração, desconfiança, medo, ira, insegurança, etc.;
b) Atores e sua organização: todo acontecimento tem por trás um protagonista, que tem uma determinada força de organização, cumpre um determinado papel político na sociedade. Identificá-los, saber como estão organizados, quais as suas forças, o que falam e como atuam é fundamental na análise de uma conjuntura. Esses atores podem ser pessoas (líderes), grupos, setores e até classes sociais;
c) Cenários: os acontecimentos ocorrem em determinados cenários; atentar para eles é também fundamental. Pode ser que, em determinado cenário, nossas possibilidades de ação sejam boas, noutro, porém, podem ser ruins;
d) Relação de forças: as classes e grupos, setores de uma sociedade estão sempre e atuam numa relação de forças. Verificar e ter uma idéia dessa força também é importante na análise de conjuntura; da mesma forma, saber como se expressa essa força é estratégico para uma análise que pretende discutir como interferir na conjuntura;
e) Estratégias: é fundamental identificar as estratégias utilizadas por cada uma dos atores na relação umas com as outras. Elas podem ser de cunho político, econômico, cultural, ideológico, etc.; devemos perceber o alcance e os limites dessas estratégias para poder nos contrapormos a elas.

Passo 2: Análise das informações

Este passo é o momento da análise propriamente dita. Ou seja, devemos fazer uma leitura das informações, procurando cruzar essas informações de modo a identificar os principais desafios e como enfrentá-los. Devemos tomar cada ator, cada força separadamente para poder entender seu movimento e interesses na sociedade; entender porque agem de um determinado modo e não de outro; porque utilizam determinada estratégia e não outra, e assim obter uma visão crítica da relação de forças. Podemos situar esses atores/forças conforme a relação de forças entre eles. É assim que começamos a entender determinados discursos e práticas sociais.

Pass 3: Conjuntura e Estrutura

É igualmente necessário e importante relacionar os aspectos da conjuntura com a estrutura, ou seja, com aqueles elementos da realidade que são mais permanente, que não mudam facilmente; esses elementos são a estrutura social, econômica, política e cultural de uma sociedade, de uma comunidade. Mudanças na estrutura demandam ou exigem ações revolucionárias ou ações capazes de mexer com a estrutura de poder estabelecida.

Passo 4: Identificar os desafios para uma ação na conjuntura

Este momento é de suma importância, pois aponta para uma ação consciente, crítica e efetiva na realidade, na cojuntura de acordo com os interesses de quem está fazendo a análise de conjuntura.

Assim, a análise deve localizar os desafios que precisam ser enfrentados a partir das descobertas; é importante perceber em que esfera estão esses desafios, pois,dependendo da esfera, podemos avaliar se nosso poder de intervenção é pequeno, médio ou grande, definindo a melhor estratégia de intervenção.

Passo 5: Planejar a ação no social

Após a análise, o grupo deve planejar sua ação, considerando todos os elementos da conjuntura. É claro que, dependendo dos interesses de quem está analisando a realidade, determinados elementos vão ser mais importantes que outros. Mas, a parte do planejamento pode ser tema para outro artigo.


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