Não vou apresentar os dados do infográfico, pois você, caro leitor e cara leitora, pode acessá-los diretamente no site do referido autor. Farei apenas uma pequena reflexão sobre algumas informações apresentadas no gráfico relacionando-as à educação à distância. Portanto, interessa-me aqui chamar a atenção para o potencial que tem a Internet do ponto de vista da educação. Acredito que este potencial questiona as concepções epistemológicas (relativas à produção do conhecimento, ao aprender) e as metodologias de ensino convencional.
Nosso país possui 190 milhões de habitantes, dos quais 81,3 milhões (42% da população), segundo a fonte citada, usam a Internet, o que quer dizer que de diferentes maneiras nevegam na Rede Mundial de Computadores. Dos que acessam a Internet, 89% comunicam-se através de redes como ORKUT, MSN, TWITTER, FACEBOOK e BLOG; 93% se sentem mais informados com a Internet e 88% mais comunicativos. Outro dado interessante aqui é que os que mais acessam a Internet são as crianças e os adolescentes, cuja idade varia de 12 a 15 anos.
Apesar de achar muito baixo o número dos que acessam a Internet no Brasil, revelando que é assustadora a exclusão digital em nosso país, os dados demonstram que a educação, no que se refere ao ensino à distância, via as comunidades virtuais de aprendizagem, precisa ocupar este espaço, visto que a Internet é um grande e poderoso instrumento de informação. É claro que informação é diferente de conhecimento, mas este supõe aquela. Estamos querendo dizer que a informação é subsídio para a construção do conhecimento, para o aprendizado, de modo que o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), principalmente a Internet, vêm revolucionando as formas de ensinar e aprender.
Atentemos para as possibilidades que a Internet sugere: disponibilização da informação (que pode ter mais qualidade); disseminação e socialização da informação de maneira imediata e em amplitude inimaginável; poder de interação, capaz de juntar pessoas, grupos e instituições inteiras em torno de um tema, fórum ou campanha educativa.
O Brasil, porém, precisa democratizar o acesso à Internet. Se considerarmos apenas o número de pessoas com acesso residencial o percentual é de 27%, ou seja, 21 milhões e 870 mil pessoas, o que é considerado baixo para tamanho de nossa população.
Já uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, realizada em 2009, revela que 79% dos 5.565 municípios brasileiros, possuem bibliotecas, mas deste total apenas 29% oferecem Internet aos seus usuários, o que é uma realidade cruel frente ao desafio da educação brasileira em avançar no ensino à distância, de modo especial através das comunidades virtuais de aprendizagem por meio das TICs, principalmente da Internet. Outro dado grave apresentado na pesquisa é que 52% dos funcionários dessas bibliotecas não têm formação para atuar na área biblioteconômica.
Por outro lado, dados da Anatel demonstram que, das 64.879 escolas urbanas do Brasil, 47.204 (72%) oferecem aos estudantes acesso à Internet de alta velocidade, o que é animador para o urgência de avançarmos na produção, socialização do conhecimento e no ensino através da Internet.
Esses e outros dados não discutidos aqui apontam para uma questão que é de ordem epistemológica e metodológica: como avançarmos no processo de ensino-aprendizagem, portanto na produção do conhecimento, no contexto das Tecnologias de Informação e Comunicação, particularmente na Internet, frente a sua importância e poder?
Sei que esta questão é capaz de suscitar um grande debate. Restrinjo-me a dizer aqui que a aprendizagem através das TICs, especificamente através da Internet, desafia-nos a revermos os paradigmas tradicionais de ensino, treinamento, baseados na lógica do estímulo-resposta e na transmissão, representados pela concepção apriorista, segundo a qual o conhecimento já está a priori, ou seja, que a origem do conhecimento está no próprio sujeito, sendo que as estruturas de conhecimento já vêm programadas na bagagem hereditária de maneira inata ou submetida ao processo de maturação; e pela concepção empirista, que defende que as bases do conhecimento estão nos objetos, o que remete ao fato de que o conhecimento é algo a ser transmitido, sendo adquirido pelos sentidos e, assim, impresso na mente do sujeito. Nesse último caso, o professor é que detém o conhecimento e cabe a ele transmiti-lo.
Se por um lado temos que rever as concepções apriorista e empirista, por outro, temos o desafio de aprofundarmos a concepção interacionista, a qual nos ensina que o conhecimento ocorre através de um processo de interação entre o sujeito (que é o aprendente) e o objeto (a coisa a ser aprendida) do conhecimento, portanto entre o indivíduo e o seu meio físico e social. Esta concepção é mais aberta ao desafio colocado pelas TICs, visto que, através dela, é possível trabalharmos o interacionismo da linguagem, da experiência e da ação do educando, sendo que o conhecimento não está nem no sujeito nem no objeto, mas sim na interação, valorizando-se assim a ação do sujeito em seu próprio processo de aprendizagem. Nesse sentido, a concepção interacionista é a que mais se identifica e favorece os processos de aprendizagem através das comunidades virtuais de aprendizagem, espaços onde os sujeitos podem interagir e construir conhecimento. O computador, nesse caso, é visto como um instrumento de desenvolvimento cognitivo e não apenas como uma máquina de ensinar.
Finalizando, podemos afirmar que para avançarmos no ensino à distância, de modo especial através das TICs, principalmente da Internet, é necessário: primeiro, democratizar o acesso às TICs, especialmente a Internet; segundo, quebrar ou rever os paradigmas tradicionais relativos ao aprender e ao ensinar; terceiro, aprofundar os processos interacionistas acreditando que a educação, na sociedade em rede e na perspectiva do conhecimento, pode ser entendida como a transformação na convivência que acontece em um espaço no qual a interação entre os sujeitos resulta em um processo de transformação nas relações; quarto, como consequência do terceiro, construir uma nova cultura da aprendizagem, capaz de radicalizar o uso das TICs, golpeando a exclusão digital, uma das formas de negação de um direito básico do ser humano: o direito à informação e a produção do conhecimento através da Rede Mundial de Computadores.
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