A Igreja Católica, em vários lugares do Brasil e do mundo, finda hoje (04/10/2001) as celebrações em homenagem a Francisco de Assis, canonizado no século XIII.
Não vou contar a história de Francisco de Assis, ela é conhecida de muita gente. Talvez não encontremos ninguém que, de algum modo, não tenha ouvido falar desse santo, homem jovem que, aos 25 anos, fez sua opção pelos pobres, dedicando a eles o cuidado, o carinho e a proteção, sem falar na sua relação com a natureza, a qual tratava com respeito e reverência, e com a qual tinha uma comunicação familiar: “Irmão Sol”, Irmão Lua”, “Irmão Lobo”, “Irmão Vento”. De maneira radical, Francisco de Assis coloca no centro de sua vida e de sua época outros valores e ideais: o compromisso com os pobres, vivendo de maneira simples e servindo-os, a justiça social e o cuidado com a natureza.
A vida de Francisco de Assis e seus ideais atualizam em nós, em pleno século XXI, três dimensões fundamentais, as quais faço aqui referência de forma muito breve.
1 – O sentido e a opção pelos mais pobres
O compromisso, a dedicação e a opção de Francisco de Assis pelos mais pobres questionam, nos dias atuais, as relações sociais que estamos construindo neste tempo de grande desenvolvimento científico e tecnológico; interpelam a direção e o sentido das prioridades sociais e humanas estabelecidas por nós - governos, instituições e nações. No fundo, a vida e a opção de Francisco de Assis pelos pobres nos colocam diante do sentido ético de nossas opções humanas e sociais, ou seja, perguntam-nos sobre o que estamos fazendo com nossos semelhantes: por que, do ponto de vista científico e tecnológico, avançamos tanto, mas regredimos do ponto de vista da humanização?; por que continuamos ampliando a distância entre ricos e pobres (são 307 milhões de pobres no mundo, segundo a ONU)?
2 – A justiça como valor humanístico
Francisco de Assis foi um jovem sempre envolvido com as questões relativas à justiça social em seu tempo. Um episódio da época nos lembra a atuação do santo com a questão da justiça social: quando os pobres se revoltaram contra a exploração dos nobres, ali estava Franscisco, do lado da justiça, como parceiro na luta social. Por que a justiça social é um valor tão distante em nossas ações e escolhas?
A vida de Francisco de Assis também nos leva a pensar sobre o lugar da justiça social em nosso projeto de sociedade. O Brasil é internacionalmente conhecido como um dos países com maior desigualdade em distribuição de renda do mundo. Nem precisa citar as estatísticas. Elas falam por si só. O que devemos fazer é refletir sobre as razões que justificam a permanência das injustiças e desigualdades no Brasil, apesar dos investimentos feitos em programas de transferência de renda e em programas sociais voltados para as famílias pobres de nosso pais. Por que os programas de transferência de renda não diminuem as desigualdades sociais? Será por causa da visão de pobreza, questionada em nosso último artigo? Ou será por que os nobres de hoje não querem mudar o modo como organizamos a vida social e a distribuição da riqueza que possuimos?
3 – O cuidado com a terra e suas riquezas
A vida de Francisco de Assis também é associada à relação com a natureza. Há uma oração cuja autoria é atribuída ao santo, que nos fala de sua relação e reverência ao Sol, à Lua, ao Vento...
"Louvado seja Deus na natureza,
Mãe gloriosa e bela da Beleza,
E com todas as suas criaturas;
Pelo irmão Sol, o mais bondoso
E glorioso irmão pelas alturas,
O verdadeiro, o belo, que ilumina
Criando a pura glória - a luz do dia!
Louvado seja pelas irmãs Estrelas,
Pela irmã Lua que derrama o luar,
Belas, claras irmãs silenciosas
E luminosas, suspensas no ar.
Louvado seja pela irmã Nuvem que há-de
Dar-nos a fina chuva que consola;
Pelo Céu azul e pela Tempestade;
Pelo irmão Vento, que rebrama e rola.
Louvado seja pela preciosa,
Bondosa água, irmã útil e bela (...)"
Sua vida e oração chamam-nos a atenção para o grande desafio que vivemos em nossos tempos: a crise ecológica, já mencionada aqui neste Blog. Esse desafio se materializa na urgência e num imperativo ético vital: ou fazemos alguma coisa agora para salvar a Mãe Terra ou desaparecemos! Precisamos alterar e rever nossa relação com a “Irmã Natureza”.
Não estamos falando de uma visão ecológica que considera o ser humano e a sociedade separados da natureza. E Francisco de Assis, já em sua época, propunha-nos uma Ecologia Integral, ou seja, uma visão da terra, da natureza que concebe o ser humano e a sociedade dentro da natureza, como partes diferenciadas, mas integradas e articuladas a ela.
Nessa perspectiva franciscana de conceber a ecologia, ser humano, sociedade e natureza integram e configuram o sistema de vida chamado Planeta Terra. Portanto, cuidar da cidade e do mundo, nessa visão ecológica, é eliminar toda forma de injustiça e desigualdade social, econômica, política e cultural que impede o funcionamento sustentável do Sistema Terra.
Portanto, assumamos juntos e juntas, com Francisco de Assis, o desafio da humanidade de hoje: cuidar de nossa Mãe Terra. Para que possamos continuar cantando com Francisco de Assis:
“Louvado seja Deus na natureza,
Mãe gloriosa e bela da beleza
E com todas as suas criaturas”.
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