Tem-se discutido muito os rumos da educação e como a escola deve estruturar o processo de ensino-aprendizagem.
Não há receitas, porque o ensinar e o aprender são fenômenos históricos e sociais, portanto são contextualizados, além de serem fenômenos multidimensionais.
Hoje, porém, ainda se debate muito sobre o processo de ensino-aprendizagem tendo como referência algumas abordagens teóricas e metodológicas, originadas em contextos históricos e sociais diferentes dos que vivemos atualmente, embora com eles tenham significativa relação.
Correndo o perigo de cair no simplismo teórico, podemos dizer que o ensinar e o aprender, como processos interligados, articulados e interdependentes, sempre se debateram em torno de quatro tendências, as quais poderíamos resumi-las em quatro palavrar fortes: transmitir, moldar, humanizar e integrar.
Ensinar-aprender é transmitir?
Até hoje, infelizmente, muita gente entende e defende que o ensinar-aprender é transmitir, ou seja, que o papel da escola é transmitir o conhecimento acumulado pela humanidade ao longo dos tempos. Caberia então ao professor, em sala de aula, organizar esses conhecimentos e repassá-los aos alunos e alunas. A estes e a estas caberia apenas receberem passivamente estes conhecimentos e incorporá-los como depositários. Paulo Freire chama esse tipo de educação de “educação bancária”, em que se estabelece uma relação entre um depositante – o professor – e os depositários – os alunos e as alunas. O professor detem e controla o saber ; os alunos e as alunas recebem pacientemente, memorizam e repetem esse saber. Nessa visão do processo de ensino-aprendizagem são valorizados os conteúdos estabelecidos e determinados pelo currículo escolar, ficando sem importância os saberes e experiências dos estudantes e das estudantes. Predomina, portanto, as disciplinas e a organização curricular estabelecidas pela escola e pelo professor.
Ensinar-aprender é moldar?
Outra parcela significativa de pessoas e instituições compreende o processo de ensino-aprendizagem como uma ação organizada pedagógica e metologicamente sobre o comportamento do estudante e da estudante, visando moldá-los e moldá-las. Isto é, prioriza também os conteúdos determinados pela escola e pelo professor tendo como preocupação e ênfase educativa o comportamento. Isso implica conceber o aluno e a aluna como seres domináveis, controláveis e conduzíveis. E a forma de operar isto é através do comportamento. O objetivo da escola e do professor é direcionar os conteúdos a fim de controlar e moldar os alunos e alunas para os valores e perspectivas sociais que entendem ser mais adequados socialmente para o corpo discente. Para serem efetivos para com este objetivo escolas e professores se instrumentalizam de forma autoritária e com métodos rígidos a fim manter o controle sobre o corpo discente e assim garantir os interesses em questão.
Ensinar-aprender é humanizar?
Atualmente, esta tendência tem procurado se firmar na escola. O professor tem buscado ser visto e assumir-se como um facilitador, pois para a escola e para os docentes o importante não são exatamente os conteúdos, mas os relacionamentos entre os estudantes e as estudantes, o aprendizado da solidariedade, a construção de si e do outro na relação. Há uma ênfase na autoeducação, onde o aluno e a aluna são vistos como sujeitos do conhecimento. Nesse sentido, o professor é um estimulador do processo de ensino-aprendizagem, ele não dirige esse processo, apenas orienta, facilita e opera a ação do sujeito – o aluno, a aluna; ele ajuda o aluno e a aluna a “aprender a aprender”.
Ora, se a ênfase está no “aprender a aprender”, o professor também cumpre um papel fundamental que é favorecer processos em que o aluno e a aluna aprendam a problematizar as situações, sempre numa perspectiva relacional com o conhecimento e com os outros sujeitos do processo de ensino-aprendizagem.
Ensinar-aprender é integrar?
Parece que há certa aproximação dessa tendência com a tendência humanista, uma vez que aqueles que atuam segundo essa visão, têm como preocupação central a interação do estudante e da estudante com alguns elementos fundamentais do processo de ensino-aprendizagem: a organização dos conhecimentos, processamento de informação, maneiras de pensar e de se comportar, dentre outros.
Então, como se observa, a preocupação é com a interação entre três dimensões básicas: como a pessoa se desenvolve (em suas faculdades mestais e físicas) enquanto sujeito aprendente, o que faz e como faz com o que aprende e em que esse aprendizado interfere em seu comportamento. A finalidade do ensinar e aprender está, pois, relacionada à integração entre o sujeito, o conhecimento e sua ação.
De maneira suscinta, com este post intencionamos instigar uma reflexão que não deve terminar aqui, deve ser melhor contextualizada, pois, como dissemos, as tendências nasceram num determinado contexto histórico-social e como tais revelam interesses político-ideológicos dos atores que as criaram e as defenderam, bem como daqueles que detem o poder na sociedade, que definem por isso o que se deve ensinar, aprender e como operar esse processo.
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