Quais seriam os saberes necessários à educação do futuro, considerando que caminhamos para a consolidação da chamada "Sociedade da Aprendizagem"? A UNESCO pediu e Edgar Morin respondeu a questão no livro "Os sete saberes necessários à educação do futuro", publicado pela Editora Cortez em 2001, no qual faz uma profunda e transdisciplinar reflexão sobre a educação do amanhã.
As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão
Neste capítulo, o autor questiona a cegueira da educação , que não enxerga o que é o conhecimento humano, seus dispositivos, enfermidades, dificuldades, tendências ao erro e à ilusão; não se preocupa em conhecer o que é conhecer. Portanto, defende que se conheça a natureza do conhecimento, implicando no estudo das características cerebrais, mentais, culturais dos conhecimentos humanos, de seus processos e modalidades, das disposições psíquicas e culturais que conduzem esse conhecimento ao erro e à ilusão. Morin entende que todo conhecimento comporta risco de erro e ilusão. Nossa percepção é limitada, pois nossa subjetividade (emoções, sentimentos, temores, etc.) é marcada por preconceitos. E esses preconceitos decorrem de problemas que se originam em nossa mente, na nossa formação intelectual e nas idéias fixas que absorvemos ao longo de nossa vida e que guiam nossas concepções, escolhas e atitudes. Portanto, é preciso vigiar nossas formas de aprendizagem e conhecimento.
Os princípios do conhecimento pertinente
Nesta parte de sua obra, Morin defende e sugere como deve ser entendido e utilizado o conhecimento, chamando a atenção para a necessidade de organizar todas as informações, aprendizagens e articulá-las em suas várias dimensões. Diz que o verdadeiro conhecimento deve ser pertinente, isto é, tem que considerar as relações entre os elementos que o geram. Nesse sentido, todo o conhecimento precisa ser situado dentro de seu contexto para ser entendido, explicado e até reelaborado. Deve-se trabalhar ou considerar as relações entre o todo e as partes, por que ambos possuem qualidades que facilitam a compreensão e apreensão do conhecimento. O ser humano é multidimensional, ou seja, ele é ao mesmo tempo biológico, psíquico, social, afetivo e racional, portanto, o conhecimento deve levar em conta todas essas dimensões. Também deve considerar a dimensão da complexidade, isto é, a idéia de que tudo é construído junto, tudo está interligado, há uma interação entre os diferentes elementos do ensino e da aprendizagem.
Ensinar a condição humana
Neste capítulo Morin discorre sobre outro aspecto que, segundo ele, deve ser central na educação do futuro: é a condição humana. O ser humano deve ser pensado e trabalhado dentro de seu lugar no universo, pois a educação no ocidente fragmentou o ser humano, as ciências e seus olhares compartimentaram o conhecimento e as concepções a respeito desse ser humano. Morin apela para que a educação do futuro cuide da unidade e da diversidade do ser humano e busque a articulação entre essas dimensões. O uno e o diverso devem andar juntos. O ser humano só pode ser entendido na articulação entre essas duas dimensões. Todo o ensino deveria considerar a condição humana como objeto essencial no trabalho educativo, unindo os diferentes olhares: os da ciência da natureza, ciências humanas, da literatura e da arte.
Ensinar a identidade terrena
Morin critica a educação que ignora o destino planetário do gênero humano. No seu entendimento, a união planetária é uma exigência racional mínima de um mundo encolhido e interdependente. É necessário trabalhar a consciência e o sentimento de pertença mútuo, isto é, nossa identidade terrena. A realidade atual de destruição dos ecossistemas e dos recursos naturais que dispomos no planeta é um indicador de que estamos longe dessa consciência planetária. Convém, pois, ensinar a história da era planetária , que se inicia com o estabelecimento da comunicação entre todos os continentes no século XVI, mostrando como todas as partes do mundo se tornaram solidárias, sem deixar de denunciar as opressões e a dominação que devastaram a humanidade.
Enfrentar as incertezas
Nesta parte do livro, Morim adverte-nos que a história da humanidade não evoluiu de maneira linear, trazendo-nos incertezas, apesar das inúmeras certezas e verdades descobertas e afirmadas pela ciência. Aventura desconhecida é como o autor chama a história humana, ressaltando que a grande conquista da inteligência poderia ser a de libertar-se da ilusão de prever o destino humano. A educação deveria incluir o ensino das incertezas que surgiram nas ciências físicas (microfísica, termodinâmica, cosmologia), nas ciências da evolução biológica e nas ciências históricas. Da mesma forma deveria ensinar o ser humano a aprender a esperar o inesperado e a construir estratégias para enfrentar essas incertezas.
Ensinar a compreensão
Aqui Morin levanta a bandeira de que a educação deveria assumir o papel de promover a compreensão mútua, em todos os níveis educativos e em todas as idades. Deveria promover a reforma das mentalidades, visando unir os seres humanos a partir de outros princípios e valores, que não sejam os da competição, insensibilidade e coisificação dos seres. Para tanto, faz-se necessário estudar a incompreensão a partir de suas raízes, modalidades e seus efeitos.
A ética do gênero humano
Nesta parte de seu trabalho, Morin defende que a educação deve cuidar da "antropo-ética", levando em conta as três unidades que estruturam a pessoa: indivíduo/sociedade/espécie. Seria uma ética para a humanidade, uma vez que vivemos numa comunidade planetária. Esta comunidade exige novas relações de interdependência, solidariedade, participação, partilha. Seria uma cidadania terrestre.
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